Nasceu assim
sem que eu visse a semeadura,
brotou de insuspeitado vigor
e fez-se flor,
enchendo as valas,
cobrindo os montes.
Embebeu-se no meu plasma,
criou raízes,
desfolhou pétalas carnudas
no meu solo ressequido
e me fiz fértil.
Acreditei no impossível
de refletir luz própria,
emprenhei,
frutifiquei.
Ah, inferno de ser dona de mim!
Onde o pecado que me esconde,
onde o escudo da culpa?
Às escuras,
nas trevas do meu sono
alguém sulcou a terra e
semeou o grão.
Hoje é grito despudorado
explodindo em ramos coloridos,
me dizendo
eu posso!
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